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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Conto: Verdade ou desafio


Oi, gente!

Peço desculpas pela ausência do post literário da semana passada, mas foi tudo tão corrido que não consegui vir até aqui.
E hoje decidi postar o último conto que escrevi ao invés de uma resenha :)
Chama-se Verdade ou desafio e estará presente na antologia Arco-Íris (em breve conto sobre isso). É curtinho e uma crítica, como vocês vão perceber.

Espero que gostem <3





"Já fazia anos desde a última vez que haviam brincado daquele jogo. Não era muito complexo ou intrigante, mas durante muito tempo fora razão de horas e horas de diversão e boas risadas.
As borboletas no estômago nos instantes que precediam o momento fatal em que a garrafa pararia e decidiria quem seriam as vítimas da rodada. Ou os algozes; os falsos lamentos sobre ser o escolhido da vez; a excitação crescente e a vontade de questionar aquela pessoa; ou a vontade de ser desafiada por ela: Sensações antes tão familiares, agora esquecidas.
O simples exercício de mencionar o jogo era motivo de chacota. Eram homens e mulheres então. Dois casais maduros, com casas recém compradas, profissões estáveis, méritos a serem alcançados.
Quando adolescentes, sentiam que podiam fazer tudo. Como adultos, realmente podiam.
Não havia mais verdades a serem escondidas. Não havia desafios que não pudessem cumprir.
Talvez tenha sido essa certeza a fazer com que Carlos propusesse o jogo, entre risos dos outros três presentes.
A chuva caía forte do lado de fora. Era a música para o jantar daquela noite.
- Verdade ou consequência vai.
- Sério, amor? – indagou Adriana, ajustando as madeixas loiras e longas atrás da orelha – E o filme?
- O André não quer ver – respondeu Thaís.
- Meu, vai dar sono. Se for para dormir, a gente vai para casa – confirmou André, já coçando os olhos azuis.
- Eu nem sei mais como brincar disso – disse rindo Adriana.
- Claro que sabe. Roda a garrafa, escolhe se quer responder uma pergunta ou se quer cumprir um desafio – explicou a outra moça, fazendo uma trança nos próprios fios escuros.
- A garrafa já temos – ofereceu Carlos virando o restante do vinho na própria taça.
- É sério isso? – questionou André.
- Vai, vai, sentem-se no chão – ordenou Thaís.
Entre viradas de olhos, risos e reclamações, as quatro pessoas sentaram-se em torno da garrafa escura e vazia, antiga moradia do líquido que agora habitava seu organismo.
- Eu começo – ofereceu-se a morena, enquanto afastava a franja dos olhos e acertava a postura em um gesto de determinação.
Quando a garrafa parou, era a amiga quem estava do outro lado.
- Verdade ou desafio?
- Verdade, né – respondeu dando de ombros, embora os olhos claros entregassem a excitação que sentia.
- Hum – pensou Thaís – Isso é mais difícil do que eu me lembrava - semicerrando os olhos continuou – Ok.  Admita um erro que cometeu.
- Um erro?  Que tipo de erro?
Os dois homens arregalaram os olhos e riram com a surpresa de Adriana.
- Nem é tão difícil – provocou o marido
- Tem que ser um erro envolvendo um de nós três – exigiu Thaís resoluta e cheia de si. Os fios escapavam da trança e caíam em torno do seu rosto redondo.
- Responde – apressou André, os olhos azuis faiscando.
A pele clara de Adriana estava ruborizada, seu rosto escondido sob a cortina formada por ondas douradas de seu cabelo.
- Não consigo me lembrar de nada – respondeu finalmente.
- Ah, amor, responde. Não é tão difícil admitir um erro.
- Então responde você – retrucou com toda a maturidade de seus 20 e poucos anos.
Carlos encarou a esposa, e balançou a cabeça, incrédulo.
- Rode a garrafa logo, então.
Adriana fez uma careta, mas obedeceu.
A garrafa, símbolo de toda a diversão que a noite reservava, parou apontando para o marido.
- Vingança – sussurrou a loira – Verdade ou desafio?
- Desafio – respondeu, sustentando o olhar. Sua pele bronzeada brilhava, seu cabelo e olhos negros cintilavam, iluminando o ambiente.
- Ligue para seu pai agora.
- Para quê? – perguntou franzindo o cenho.
- Só para dizer que o ama.
Thaís e André riram, mas a expressão de Carlos era séria. Os ombros rígidos demonstravam que o desafio não fora bem recebido.
- Por que eu faria isso?
- Porque eu o desafiei a fazê-lo – disse, dando de ombros.
- Vocês estão brigados? – indagou Thaís, notavelmente perdida na tensão que preenchera o espaço entre o casal.
- Não – respondeu Adriana pelo marido.
- Então por que o susto?
- Olha o nível do desafio – intercedeu André em defesa do amigo – Que bobeira ligar para o velho no meio da noite para falar isso.
- Ele não dorme cedo – retrucou Adriana.
- Não é pelo horário. E chega dessa conversa – encerrou Carlos, girando a garrafa antes que uma nova onda de protestos tivesse início.
Adriana levantou as mãos em um gesto de derrota.
- Verdade ou desafio? – perguntou para André que já ria.
- Desafio.
- Fácil. Mande mensagem para seu chefe avisando que não vai trabalhar amanhã, porque vai passar o dia com sua noiva – o sorriso de Carlos era de triunfo.
Thaís ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas um sorriso enfeitava seus lábios.
- Gostei. Realmente temos muita coisa para preparar antes do casamento.
André fuzilou Carlos com os olhos azuis, mas encontrou apenas uma risada descontraída em resposta.
- Meu anjo, sabe que não posso.
- Faz quanto tempo que você não tira férias? Ou um dia de folga para ficar com a Tha? – questionou Adriana – Lembro que vocês brigaram uma vez por causa disso.
- Valeu, Dri – ironizou – Aquele escritório é uma loucura. Não posso simplesmente deixar de ir trabalhar. E para termos o casamento que sonhamos, preciso do dinheiro.
- Mais um desafio que não vai rolar, né? – concluiu Thaís afastando a franja novamente.
O ânimo do começo da noite diminuíra consideravelmente nos últimos minutos.
- Vou girar a garrafa – anunciou André dando um beijo no rosto da noiva – Para você, meu amor.
- Quero desafio – escolheu antes que perguntassem – Alguém tem que cumprir alguma coisa. Manda um difícil.
- Certo... Quero que você vá lá fora e pise na lama que a chuva deve ter causado ali onde tinha terra no quintal.
- Urghhh... Aquilo deve ter virado uma sujeira só – Adriana contorceu a boca em uma expressão de nojo.
- Olha o nível do que você está me pedindo, Dé! Até agora estava tudo fácil.
- Girei a garrafa para você já – interrompeu Carlos bufando.
- Era só lavar os pés depois, amor – defendeu-se André enquanto a garrafa não parava.
- Minha calça é nova e branca – choramingou Thaís antes de verificar quem seria a próxima vítima – Verdade ou desafio, Dri?
 - Verdade.
- Você gostou do meu corte com franja?
Adriana enrubesceu novamente.
- Que pergunta idiota, Tha.
- Gostou ou não?
O sol brilhava sob a pele de Adriana.
- Claro. Ficou linda.
Thaís encarou a amiga, investigando-a com o olhar.
Carlos mordeu o lábio inferior e interveio:
- Acho melhor mudarmos de assunto logo.
- Verdade ou desafio, amor.
- Desafio.
- Você vai passar o restante da noite sem reclamar.
- Fácil. Desafio aceito.
Os outros três adultos aplaudiram o amigo. 
- Finalmente esse jogo vai começar a funcionar – elogiou Thaís.
- Tinha que ser eu, né? – brincou Carlos – Verdade ou desafio, André?
- Desafio.
- Vá correr na chuva.
- Vou nada.
- Vai sim – incentivou a noiva sorrindo.
- Não.
- Cara, que chatice. Ninguém faz nada – reclamou Carlos.
Adriana e os dois amigos se encararam.
- Você não aguentou nem dois minutos antes de reclamar, amor – falou calmamente.
Carlos encarou o restante dos presentes.
- Droga.
- Tenho a impressão que essa brincadeira era mais fácil quando a gente era mais jovem – admitiu Adriana.
- A gente perde a coragem conforme envelhece? – indagou André mais para si mesmo do que para os outros.
- Parece que na pressa para amadurecer, a gente passa do ponto – respondeu Adriana.
- Ah, mas esses desafios eram complicados demais – defendeu Thaís.
- É... Pisar em lama, admitir erros, passar um dia com a noiva, dizer que ama o pai. Cara, somos adultos já – completou André.
- Impossíveis – aquiesceu Thaís.
- Acho melhor a gente voltar para o filme – sugeriu Carlos, sentando-se de novo sobre o sofá.
- Também acho.
- É melhor.
- Deixa as verdades e os desafios para as crianças.
-Isso. É bobeira mesmo.
- Deixa que eles se divirtam desse jeito infantil e vamos nos divertir como adultos.
- É. Vamos dormir. "

ps: Prometi contar sobre a maratona, e bem.... estou hiper atrasada no cronograma! hahaha

beijos e até quinta!



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